sábado, 3 de outubro de 2015

"O DESTINO DE UM SERTANEJO"









Por Sálvio Siqueira






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                                             Prezados, é do conhecimento de todos que houveram 'aquelas entradas' nas fileiras do Cangaço, cada qual por sua razão, motivo e/ou circunstância. Algumas foram para livrarem-se de inimigos, essa, acometida pelos dois lados, Cangaço e Volante. Por vingança e ainda por vaidade, em busca de melhores posses, ser dono de si mesmo... e por aí vai...
Mas, há aquelas que tendem a nos chamar atenção por vermos um outro motivo.. O sertanejo, daquela época, tinha seus rigores na vida. Eram homens acostumados a um tipo de trabalho que pouco o acompanhavam na dureza diária.

                                            Naqueles negros dias, para apanhar, o sertanejo bastava apenas ser parente de algum cangaceiro. Ora, se uma pessoa entrava para o cangaço, algum parente, pai, mãe, irmão, primo ou mais afastado parentesco ainda, o que tinham como culpa? Ele entra nas fileiras do cangaço, e que culpa teriam aqueles que em casa ficavam? Que culpa teriam aqueles que procuravam seguir suas vidas, com seus filhos, netos e esposas, dando conta dos afazeres das propriedades rurais? Nenhuma. No entanto, não sabe-se por que, muitos dos que formavam as fileiras das volantes, contratados ou não, sentiam imenso prazer em feri-los,maltrata-los, humilha-los e, até mesmo, matá-los.

                                                 Sertanejo retirando água de cacimba
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                                            Augusto, primo do cangaceiro Zé Baiano,sertanejo trabalhador, respeitador, pacato e manso que dava dó, foi, por diversas vezes aporrinhado pelos homens das volantes. Sem nada dever, sem culpa ter de um parente seu, por ironia do destino, tornar-se no "Cangaceiro Ferrador", pagava, e caro, esse parentesco.








                                           Cangaceiro Zé Baiano- tokdehistoria.com.br



                                          Em certos dias, depois de uma boa prosa com sua esposa, juntam seus 'cacos', e com eus quatros descendentes partem da sua terra querida. Vão a procura de um lugar distante, para poderem criar seus filhos em paz.

                                          Seguem seu caminho, cheios de esperanças. Na pequena bagagem, ia pouca coisa, mas, em seus corações, havia um oceano de esperança e fé. 

                                          Conseguem abrigo em uma fazenda no município de Carira, cidade do Estado sergipano, e quem os acolhe é um tenente da Guarda Nacional, que tem como nome Alexandre. Seguem os dois, ele e a esposa, um ajudando o outro, na lida do dia- a a dia.

                                         Sem saberem o porque, nem de onde tinham saído, um montam de gente, certa noite, batem em sua porta e o mandam abrir. Se nada estar entendendo, pergunta o que se passa de dentro da casa. Os homens derrubam a porta e adentram em seu lar, gritando impróprios e já lhe acuando na ponta da botina. Rolando pelo frio e duro piso, grita de dor a cada botinada. Mesmo assim, consegue ver que alguns soldados entram no quarto onde encontra-se sua esposa, que mantém-se em estado puerpério, pois tinha tido um filho há poucos dias. Os volantes, ao passarem a soleira da porta do quarto, um deles, saca do punhal. e quando aproxima-se da mulher, que grita desvairadamente, pedindo socorro, perfura seus seios. A dor é intensa. O sangue chorra como que fosse de uma fonte, por uma perfuração no solo, e ela, sem mais suportar, desmaia. 
 

                                  Augusto, todo machucado, com muitas escoriações e algumas costelas fraturadas, depois de muito tentar, consegue sentar e, em seguida, pôr-se de pé. Corre para o quarto e tenta reanimar sua amada, que ainda encontra-se desmaiada. Há muito custo, consegue falar com ela, choram abraçados. E se perguntando porque o tenente Francisco Moutinho Dourado, mais conhecido por 'Douradinho' tinha feito aquilo com eles.

                                         O sertanejo perde toda a vontade de viver como gente decente e, depois de muito pensar, avisa a sua querida que vai entrar para o cangaço, pois tinha que vingar o que os soldados volantes tinham feito com ela. Ela, desesperada, implora para que não faço aquilo. Tenta, a todo custo, convence-lo para irem embora pra mais longe, e criarem seus filhos. Nada, nem ela nem ninguém conseguiria tirar essa mágoa do seu peito, se não a visão de um soldado tombando morto.

                                          Com seu coração partido, seus olhos cheios de  lágrimas, despede-se dela e de seus amados filhos. Juntando-se ao grupo do primo, Zé Baiano. comunica ao mesmo que de agora por diante passará a se chamar Meia- Noite. Adotando, ele seria o terceiro com essa alcunha, o nome do maior dentre os guerreiros do sol. Este é o codinome de um dos cangaceiros mais valentes que apareceu no sertão nordestino, se não foi o maior. 

                                   Lá estando, a saudade invade sua alma e começa a consumi-lo devagar. Resolve então, escrever e mandar uma carta para sua amada:







 (carta/bilhete, 'pescada' no livro "Lampião além da versão - Mentiras e mistérios de angico", de autoria do inesquecível Alcino Alves Costa, em sua 2ª edição, pg 191)










                            Volante comandada por Zé Rufino(primeiro a esquerda de quem olha)
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                                         Augusto, o agora Meia- Noite, tem seu primeiro e único tiroteio, logo contra o maior, o mais astuto dos comandantes de volantes que no cangaço brotou, Zé Rufino. Seu primo e os demais correm, ele tenha jurado a Jovelina de não correr. Seu parente, os outros cangaceiros e até mesmo Lampião, tinham aconselhado ele como agir, no entanto, ele não arredou o pé de onde estava e enfrentou, sozinho, a volante, morreu ali, e teve sua cabeça decepada e mandada como troféu pelo comandante da volante.

Um comentário:

  1. Simplesmente sensacional! Não defendo cangaceiros, e muito menos justifico as maldades e crueldades cometidas por eles. No entanto meu caríssimo Sálvio, por trás desses homens rudes, cruéis que tantos crimes cometeram, existiu apenas o ser humano, com sentimentos comuns como: saudades da família, da esposa e dos filhos..

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