sexta-feira, 23 de outubro de 2015



"A SERRA DO GABRIEL"


Por Sálvio Siqueira 



                               Serra do Gabriel - Google Eart 



                                 Naqueles idos de 1912, ano de grandes conflitos no cariri paraibano, devido o levante do advogado Augusto Santa Cruz.

                                 Este fato ficou na História conhecido como “A Guerra de 12”. O que, na realidade, seus conflitos se iniciam em 1911.
                                Augusto Santa Cruz sucedeu o pai politicamente, na região da Lagoa do Monteiro, PB, onde seu pai torna-se o maior chefe político na época. Tendo sua formação cultural, Bacharel em Direito. Augusto não se deixava ‘levar’ nas ondas no então governado, Presidente, do Estado da Parahíba. Como era de costume, o Presidente investe em um coronel, não de formação acadêmica, analfabeto mesmo, e consegui com facilidade, mantê-lo sob sua rédea.

                                O Bacharel, que também não queria perder seu poder político, essa é a realidade, a verdade mesmo, não se conteve e começa um movimento ‘militar’ contra o Estado. Augusto passa a contratar as armas dos vários jagunços da região, e mesmo fora dela, pois, conseguiu um contingente bastante elevado em se tratando de quantitativo pessoal. Esse movimento tinha a clara intenção, em seu principal objetivo, fazer com que o Governo Federal interviesse. Com isso, pensava Santa Cruz, ter a oportunidade de voltar a ser o maior chefe político daquela região.


                                 Nessas contratações, aparece para ser contratado um ‘cabra’ de nome Gabriel. Nem o contratante, nem tão pouco os contratados, interessavam-se pelo ‘histórico’ familiar. Não davam dados importantes, pelo menos para registros históricos, como data de nascimento, de onde eram, quem eram seus pais... Nem seus sobrenomes eram referidos. Com certeza, até os nomes dados, muitos foram ‘criados’ para tal serviço.
                                 O ‘cabra’ Gabriel começa seus ‘trabalhos’. Suas armas estão a serviço do Bacharel Revoltoso. Passam os dias... Participa de vários conflitos, uns menores, outros perigosos, uns fáceis, outros pondo sua vida em risco... E por aí prossegue sua ‘lida’, para aquilo que foi contratado.
                                  Após cessarem os conflitos, tendo Augusto e o Drº Franklin, ex chefe político da cidade do Teixeira, PB,  serem derrotados e caírem em suas rotas de fuga, chega a hora de ver como ficariam aqueles contratados, aqueles que fizeram parte das suas fileiras em armas.
                                  Augusto usa de um método, aparentemente, lógico. Por ser advogado, pergunta os crimes que cada um cometeu, e prometia-lhes que após seu julgamento e sua absolvição, prestaria seus serviços, como defensor dos mesmos, perante a Justiça.
                                  Analisando essa atitude de Santa Cruz, notamos mais uma grande estratégia. É lógico que não poderia chegar e largar pra lá aqueles homens. Eram homens que não temiam a morte. Nem se importavam de meter-lhe uma bala na cabeça e acabar com sua vida, ou com a vida de qualquer outra pessoa.



                                                  Serra da Matarina - Prata - PB



                                Então, usando da astúcia verbal, oralmente, começa a convencer alguns de que seus crimes não tinham como serem defendidos. Que seria melhor que fosse embora, esconderem-se o mais longe possível daquela localidade. Para isso, dava-lhe provisões e dinheiro. Muitos partiram na lasca do mundo e nunca mais se ouviu falar deles.
O ‘cabra’ Gabriel foi um, dentre aqueles que Augusto lhe paga e o manda entrar no ‘giro da venta’, só parando quando estivesse bem distante.
                                Em vez de ir-se, Gabriel, que tenha um filho pequeno, resolve se ‘arranchar’ em uma furna das muitas serras existentes nas imediações.
Entre os municípios de Prata, PB, e Monteiro, PB, há um ‘cordão’ de serras, mais precisamente em seus limites, é onde o “cabra” Gabriel, seu filho e o cão de estimação, fazem moradia.


                                           Serra da Santa Catarina - Monteiro - PB
                                                       Foto: Valdemir Fernandes 


                              A espreita, o ‘cabra’ passa a caçar animais e aves silvestres para que sua carne sirva de alimento para o trio. Sai muitas vezes da sua ‘casa’, a loca na pedra, furna, e deixa a criança a brincar com os ossos dos animais, fazendo-os de bois dentro de currais de pedras. Seu cão acostuma-se a caçar sozinho. As sobras não eram tantas, e o pobre cachorro sente a necessidade de completar sua alimentação diária.
                             Muitas vezes tiveram o esplendor do lar sertanejo em noites de lua cheia, achando que o plenilúnio tinha descido das alturas e estava juntinho a eles. A folhagem servia de colchão e coberta... assim levaram sua sobrevivência por um longo tempo.
Nessas idas e vindas, o cachorro contrai a ‘Peste bubônica’, provavelmente contraiu Varíola, e ao retornar para juntos de seus queridos donos, os contamina.




                                      Serra da Santa Catarina - Monteiro - PB


                              Passam-se os dias, passam-se as semanas, passam-se os meses... Em fim, passam-se os anos sem ninguém ter, nem dar, notícias do ‘cabra’ de nome Gabriel por aquela ribeira. Certo dia, muito tempo depois, uns caçadores encontram sua casa na pedra. Na furna, loca que tinha escolhido como sua residência estava, ou restavam, os ossos, brancos e limpos de uma criança, de um cão e de um homem. Foram mortos pela ‘doença’. O cão, que por lugares distantes andou, comendo de tudo que encontrava, contraiu uma terrível doença e, sem ter culpa alguma, chega, balança a calda, esfrega-se em seu companheirinho e nas pernas de seu dono, decretando assim a condenação, sob morte, dos três.
                             O local mudou de nome, hoje é conhecido como “A Serra do Gabriel. Está serra encontra-se entre a Serra Santa Catarina, no município de Monteiro, e a Serra da Matarina, no município da Prata, PB. Mesmo entre as duas, está a Serra do Gabriel. Chegando na ponte, limite da área urbana de Prata, segue, passando por trás do cemitério, e, seguindo pela única estrada que tem, logo, logo, depara-se com a dita Serra, A SERRA DO GABRIEL.


Nenhum comentário:

Postar um comentário