sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O TERROR BAIANO



Por Sálvio Siqueira


                                          

                                          Em outubro de 1807, no Saco do Limão, fazenda localizada no município do povoado Olho D'água, hoje Feira de Santana, no Estado baiano, nasceu o escravo Lucas Evangelista dos Santos, filho dos escravos Inácio e Maria. A proprietária da dita fazenda chamava-se dona Antônia. Quando do falecimento da dona Antônia, o Lucas foi um 'bem' que, na partilha dos bens da dita senhora, ficou para um sobrinho dela, ' o Padre João Alves Franco'( livro Lampião- a Raposa das Caatingas, pg. 44, 2ª edição, Salvador - 2014). Devido aos maus tratos que passavam todos os escravos, submetidos aos 'caprichos' desumanos do feitor Teodoro, 'que tratava os negros como bicho'(Ob. ct).
                                          
                                           Na fazenda, sempre tocando os afazeres cotidianos, era conhecido por todos como Negro Lu. Além de trabalhar a lavoura, dominava as técnicas de carpinteiro.
                                            

                                          


                                             Não mais suportando os sofrimentos  que o feitor o fazia passar, Negro Lu evadi-se da fazenda. Tornando-se um escravo fugitivo. Em 1828, juntando-se a outros escravos fugitivos, formam um grupo, pequeno e as vezes com muita gente, e passam a aterrorizar as redondezas daquela localidade.
                                             A revolta, estando entranhada em seus íntimos, por todo o sofrimento que passaram nas mãos dos feitores, mantinham um ódio, acumulado, de anos e hereditário, contra toda a população branca. Passaram a assaltar nas estradas e as pequenas casas dos sítios circunvizinhos. Negro Lu, agora alcunhado de "Lucas da Feira", especializa-se em estuprar e matar mulheres brancas, no ímpeto de saciar sua sede de vingança. Achava-se no direito de fazer, com toda e qualquer moça branca, tudo aquilo que os fazendeiros fizeraam com as jovens escravas. Assim, durante duas décadas, a região em volta da cidade de Feira de Santana- BA, viveu um grande terror d'uma orda de homens negros.

                                               Por várias oportunidades, seu grupo foi atacado por Forças do Império, sendo vários, por várias vezes, enforcados aqueles presos nos conflitos. No entanto, Lucas da Feira, o terrível escravo revoltoso, sempre conseguia escapar. Por inúmeras ocasiões, não se sabe como, ele 'escapuliu', bem de baixo do nariz de seus perseguidores.


                                                 Em determinada época, Cazumbá, escravo fujão membro do grupo de Lucas,  diz às autoridades que, se foram perdoados os seus crimes, ele sairia no encalço de Lucas da Feira. A traição nunca deixou de existir entre os homens. Feito o trato, partem, o Cazumbá, comandando um grupo de militares em busca dos rastros do negro foragido. Na localidade Pedra do Descanso, após o meio dia, Lucas é avistado pelo seu ex comparsa. Cazumbá dispara seu clavinote e atinge Lucas na altura do braço esquerdo. Sabendo o traidor que Negro Lu era canhoto, procurou deixa-lo menos perigoso, retirando seu potente e ágio braço de ação. Mesmo assim, com o osso do braço partido, Lucas consegue, mais uma vez, desaparecer das vistas de seus perseguidores. Esse acontecimento, é marcado com a data de 12 de janeiro do ano de 1848. Prossegue-se a perseguição, e em determinado local, os perseguidores encontram um negro, que Cazumbá já o conhecia e sabia que ele protegia o Lucas. Apertam o escravo fugitivo, por nome de Benedito, terminando, após grande seção de torturas, dizendo onde encontrava-se o Negro Lu. Disse que o mesmo encontrava-se em uma gruta, furna, nas imediações de Poço Gurunga. Doze dias após ter sido ferido, ou seja, no dia 24 de janeiro de 1848, em companhia de uma mulher chamada Maria Romana, a qual no momento tratava do ferimento do braço de Lucas, que não querendo entregar-se, é novamente ferido no mesmo braço, e desta vez o arrancando. Contendo a hemorragia, o Negro Lu, meio semi-morto, pelo sangue perdido, é levado a cidade de Feira de Santana- BA, na qual toda população entra em um delírio de alegria total.


                                                  


                                                    Lucas é removido para a capital da Bahia, Salvador. É condenado a morrer na forca, antes, porém, de voltar à Feira de Santana e ser executado, segundo alguns escritores, o imperador, D. Pedro II, manifesta interesse de conhece-lo. Queria ver aquele escravo fugitivo que tanto assombrou uma região.

                                                     Em 25 de setembro de 1849, Negro Lu, o terrível Lucas da Feira é enforcado. Escolhem para ser seu carrasco um jovem cujo pai Lucas teria assassinado e estuprado suas três irmãs.

                                                     "Em 1854, o cadáver de Lucas foi exumado e decapitado, e a cabeça foi levada para Salvador a fim de ser submetida a estudos frenológicos. O antropólogo Nina Rodrigues, em meio a observações nitidamente racistas, observando que o crânio do morto tinha "caracteres próprios aos crânios negros", mas, também caracteres  pertencentes aos "aos crânios superiores, medidas excelentes, iguais as das raças brancas", faz uma concessão: "Lucas era realmente um negro superior; tinha qualidades de chefe; na África talvez tivesse sido um monarca..."(Ob. Ct.)




Fotos recabral.uol.com.br
Mendes&mendes.blogspot.com
depressaoepoesia.ning.com

4 comentários:

  1. Muito bem, caros colegas pesquisadores assíduos da história do sertão nordestino. Mas especificamente, o que está relacionado ao cangaço.
    A informação acima sobre Lucas da Feira revela que as questões sociais, raciais, políticas, econômicas, de poder, sempre estiveram incrustadas no mundo sertão. E por causa disso, revoltas e banditismo se fizeram presente na aridez das relações humana, do sertão nordestino.
    Foi muito bem escolhido o primeiro tema, o "primeiro cangaceiro", abrindo o leque do que virá por meio de Sálvio Siqueira e Edinaldo Leite, dois paladinos incansáveis na pesquisa cangaceirística. Parabéns pelo texto. Abraços. Poeta Gilmar Leite

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    1. Amigo , vindo de você é sempre gratificante tantos elogios. Obrigado.

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