sábado, 5 de setembro de 2015

A PARAHÍBA DE 1912

 Por Sálvio Siqueira



                                                          Homens do Drº Augusto Santa Cruz - Livro Guerreiro "Togado"




                                                    No final do século  XIX  os Partidos Liberal e Conservador, procuram uma maneira de adaptação com o novo Sistema Vigente da República. Eram recentes as mudanças de um duradouro modo de viver político da Nação.

                                                    Sequencialmente, grandes fatos ocorreram para que tais mudanças "viessem" e se faziam necessário adaptar-se. Fatos como, em 1888 a Abolição dos Escravos, 'mexendo' com modos e patrimônio dos latifundiários, os coronéis; Um anos após, ou seja, em 1889 vem a República, exigindo um novo modo de viver. Se fez necessário um período de adaptação, os quais, nem todos concordaram e/ou seguiram.

                                                    Com a República, extinguem-se as Províncias, sendo criados os Estados Federativos do País. Com eles, são criadas as Leis regionais, através de constituições individuais em cada Estado. Em 5 de agosto de 1891 é promulgada a Constituição Republicana da Parahíba(Paraíba). Com elas, vieram grandes mudanças, e, essas mudanças trouxeram uma grande dor de cabeças para aqueles que sempre impuseram seu poder. A partir desse momento, também se fez necessário uma reorganização política nos municípios, pois a mesma, tornou-se uma ameaça à oligarquias hereditárias, abalando as estruturas dos poderosos.

                                                     No Cariri paraibano, mais precisamente na Alagoa  do Monteiro, por volta da segunda metade do século XIX, chega João de Santa Cruz Oliveira, o qual vinha do Estado vizinho, Pernambuco, da Vila de Correntes, localizada no agreste do Estado citado. Coronel da Guarda Nacional, dono de várias propriedades, sendo também um influente político, deputado pelo Partido Liberal, como não podia deixar de ser, torna-se logo logo, uma pessoa influente e destacada naquela região.

                                                      Casado com Ornecinda Bezerra, filha do tenente Manoel dos Santos Bezerra, que pertecia a uma família tradicional naquela comunidade. Tiveram cinco filhos, Miguel, Arthur, Augusto, Teotônio e Francisca. Formaram-se em Direito os três primeiros, pela Faculdade de Direito do Recife, uma das mais conceituadas à época.


                                                      Por vários anos a política no município de Monteiro, foi 'dirigida', comandada pela família Santa Cruz. Além do pai, seu filho mais velho, Miguel Santa Cruz, apesar de não ter tanta afinidade política, também tomou as rédeas do pode.

                                                      Preferindo exercerem as magistraturas, os irmãos de Augusto Santa Cruz, Miguel e Arthur, saem da política. Contrariamente a ele que entra de corpo e alma dentro dela.


                                                Alagoa do Monteiro - PB - cariricangaco.blogspot.com

                                                      O Presidente do Estado da Parahíba, no início do século XX, Álvaro Machado, queria por que queria acabar com o domínio dos Santa Cruz naquela região. Passou a investir suas 'fichas', no coronel Pedro Bezerra da Silveira Leal. Homem sem pertencer a família importante, que galgou seu posto por méritos e esforços próprios. Mas, tinha um detalhe, era semianalfabeto, tornando-se um 'peão' fácil de manobrar no 'tabuleiro' dos jogos pelo poder. Diferentemente do Drº Augusto Santa Cruz, possuidor de vontades, individual e política, próprias, com dons carismáticos, afeito ao poder, que tinha projetos próprios e uma liderança incontestável.

                                              Augusto Santa Cruz - tokdehistória,blogspot.com.br


                                                       Em outro município paraibano, Teixeira, ocorre fato semelhante. O Presidente, como em Monteiro, investe no coronel Dario Ramalho de Carvalho. contra o médico Drº Franklin Dantas, que dominava a política até então.

                                                       O Drº Augusto não conforma-se com tal situação. Achou muito desprestígio, mesmo um insulto aos seus conhecimentos e liderança. Rompe com os chefes locais. Em sua revolta, passa a agir de forma agressiva. Vários fatos ocorridos com violência, perseguições, invasões, espancamentos, mortes passam a ser-lhe atribuído. Em 1910, rompe com o coronel Pedro Bezerra. Articula emboscadas e invade a Vila de São Tomé, atual Sumé. Acabando por ser pronunciado, por tais crimes, pela Justiça.

                                                        Sua inconformação vai as alturas e ele começa a arrebanhar jagunços, cangaceiros pistoleiros e toda espécie de mal feitores. conseguindo formar um grande grupo com 200 cabras, parte, sitia e invade, em 1911, a cidade de Monteiro. Numa alucinada busca sangrenta, não impede que sua horda cometa os maiores crimes. Invade a cadeia e libera os prisioneiros,desatinos, atrocidades e saques dos estabelecimentos e residências dos seus inimigos políticos são cometidos.
 Por fim, faz reféns todas as autoridades locais e as conduz para sua propriedade, a fazenda Areal. Segundo alguns autores, ele pretendia fazer negociações, usando os reféns, para anistiarem os crimes pelos quais fora pronunciado.

                                                         Em vez de acatar suas exigências, o Governo ordena que tropas partam e resgatem os reféns a bala. O tiro saiu pela culatra, o Drº Augusto estava em maus lençóis, pois havia também a ordem para prende-lo. A tropa cerca e ataca a sede da Fazenda Areal. Depois de intenso tiroteio, vendo a derrota se aproximar, Augusto Santa Cruz foge com a maioria dos seus homens, levando os reféns. A tropa, ciente que seu alvo escapou, bota fogo na fazenda. 


                                                          Sem nem pensar em desistência, ele alia-se ao Drº Franklin Dantas e juntos, conseguem um contingente de 400 homens. Seus planos seria atacar, invadir, a Capital do Estado. Descendo a Serra do Teixeira, em maio de 1912, ele invade a cidade de Patos, segue então para Taperoá, Santa Luzia do Sabugi, Soledade e São João do Cariri. A partir desse ponto, as Forças do Governo, começam a darem combate, impedindo sua caminhada rumo ao litoral.  Augusto ver que seus planos estão indo por água abaixo, então foge, primeiro para Pernambuco e depois segue com destino ao Ceará.

                                                          Quanto aos reféns, algumas literaturas citam que são soltos pelo caminho, mas, o restante só é liberado nas proximidades, ou mesmo na cidade, de Juazeiro do Norte- CE, onde foi pedir pedir proteção ao Padre Cícero.

                                                           Augusto Santa Cruz é submetido a júri popular em março de 1913, na cidade de Monteiro, tendo seus irmãos, Miguel e Arthur, como defensores. Foi absolvido por unanimidade pelos jurados.






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