AS MOÇAS DA “ MARANDUBA”
Por Sálvio Siqueira
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Na fazenda Maranduba, fincada no município de Poço Redondo,
Estado sergipano, morava o casal Lé e Pureza.
Lé, como tantos outros homens da
época, era vaqueiro, assim como seus dois irmãos, Josias e Luiz.
Pureza era filha do agricultor João Januário, que manipulava
sua enchada nos barros da localidade Curralinho.
O casal, cumprindo a “Lei’ escrita no livro Maior, fez com que
crescesse e multiplicasse sua prole. Tiveram seis filhos amados. Criados como todos
da região, com muita dificuldade e sacrifício. Segundo a obra literária do
ilustre Alcino Alves Costa, “LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – MENTIRAS E MISTÉRIOS DE
ANGICO”, na página 137, ‘Ele’ nos relata que os nomes dos amados filhos do casal Lé e Pureza, eram
Adelaide, Rosinha, Cidália, Arabela e seu único filho homem, Zequinha.
Zequinha, como tantos, só via-se como adulto, quando 'lá' chegasse, um bom
vaqueiro, imitando seu velho pai e tios, pois todos eram afamados vaqueiros em
toda aquela região.
As meninas, também como tantas da época, tinham em seus
sonhos seus ‘príncipes, encantados, seria querer de mais, mesmo, simplesmente
um príncipe, já estava de bom tamanho. A vida era dura para os meninos que logo,
logo, tinham que exercerem funções de adultos sem nem mesmo passarem, ou
melhor, viverem suas adolescência. Para as meninas a coisa era mais dura ainda.
Não podiam, muitas das vezes, nem se quer estudaram, para não ficarem sabidas,
pois mulher ‘sabida’ era um perigo.
Cangaceira Rosinha - Grupo LCN
Naquele tempo, por aquelas bandas, começaram a circularem em
volta da casa de Lé dois cangaceiros. Mariano e Criança. O Primeiro, após
perder Otília, apaixona-se por Rosinha. O segundo, há muito estava loucamente apaixonado
por Adelaide, irmã de Rosinha.
Sendo, na época quem dava as ‘cartas’ por aquelas terras, os
dois cangaceiros não tiveram dificuldades de levarem para as tristes fileiras
do cangaço as irmãs. Ficaram distantes por os dois atuarem em grupos e áreas
diferentes. Mariano vivia e praticava seus crimes pras bandas de Porto da
folha. Já Criança, atuava nas redondezas de Poço Redondo.
E o esperado acontece. Adelaide engravida. Sua gravidez,
como de todas as outras mulheres que fizeram parte do cangaço, não foi moleza. Levanta
daqui, corre pra li, debaixo de sol e chuva, durante o dia ou mesmo a noite,
eram uma constante em suas vidas.
Segundo a obra citada, Criança tem grande amor e carinho por
Adelaide, resultando firmeza e lealdade para com a sua companheira.
Quando aproxima-se o momento da sua companheira parir,
Criança, conversa com Mané Moreno, e vão para um coito, distante, conhecido e
aconchegante, se podermos dizer que haviam coitos assim, para que Adelaide ‘ganhasse’ seu filho.
Cangaceiro Criança - blogdomendesemendes.blogspot.com.br
As horas passam, as contrações há muito iniciaram-se e, com
o passar do tempo, seu retorno começa a ficar quase sem intervalos. Não tem
jeito. A criança do Criança não vem ao mundo, e sua companheira já tem bastante
tempo que sofre.
Mandam buscar uma parteira que morava nas imediações, e esta,
já prevendo complicações, já trás outra para lhe ajudar. Tudo em vão. O
sofrimento da cangaceira aumenta com o passar das horas e a criança resolveu
não vir ao mundo.
Em uma rede, a transportam para uma localidade que tivesse
algum recurso como ajuda, nada. Não tem como parir a companheira de Criança.
Valendo-se novamente da rede, os cangaceiros procuram outro
lugar para que Adelaide desse a luz... Um local que tivesse uma pessoa para
ajudar, terminando assim com tão longo sofrimento. No caminho, alguém verifica
e diz que o feto já está morto... Adelaide, de tanto sofrer, talvez não tenha
escutado que seu filho estava sem vida em seu ventre. Embaixo de uma frondosa
árvore, Adelaide, dentro da rede começa a perder suas, já tão fracas, forças...
Criança, percebendo que irá perder sua amada fica louco. Grita, chora, fala, urra
palavrões na tentativa de amenizar a angústia que lhe invade... Seu ‘compadre’,
Mané Moreno, vendo que o amigo estava em estado complexo, sem noção do que
fazia, tenta evitar uma catástrofe maior, retirando o ferrolho do mosquetão do
amigo, assim como retira também, o carregador da sua pistola.
Sua amada dá seu último suspiro. Sem despedir-se do
companheiro, parte para o outro ‘lado’, onde, talvez, seu filho a esperasse.
Fazem seu enterro. A dor, ainda visível no semblante do cangaceiro, não quer
ir-se. Naquela vida não havia tempo pra isso... Guardar dores e sentimentos por
alguém que tenha morrido.
Seu compadre, Mané Moreno, compra várias garrafas de
aguardente e diz que ele precisa beber até embriagar-se, para esquecer o que
aconteceu.
Assim faz Criança. Após o enterro de Adelaide, ele toma um
dos maiores porres de sua vida e, de certo tempo pra frente, junto aos
companheiros, começam a dançar e cantar até que o dia raiasse... Nas quebradas
do Sertão.
Excelente texto. Parabéns caro Sálvio Siqueira. Falar nisso alguns dos seus artigos estão no meu livro/coleção LAMPIÃO E O CANGAÇO NA HISTORIOGRAFIA DE SERGIPE (I e II volume), já observou? Ainda vem mais por aí.
ResponderExcluirGrato.
Archimedes Marques
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