“A RODA DOS ENJEITADOS”
Por Sávio Siqueira
Existentes em Mosteiros e em conventos, a Roda dos
Enjeitados, eram ‘portas’ com grandes cavidades um tanto cilíndricas, não de
todo, e giratórias. Para que quem nelas colocasse ‘as crianças’, pelo lado de “fora”
não fossem vistas por aqueles que as recebiam do lado de “dentro”, por trás das
enormes muradas. Serviam, também, ou para isso foram criadas, para servir de
uma inter ligação entre o mundo de fora e o de dentro. Eram feito doações aos
que dentro moravam.
Após colocarem os objetos, pacotes ou outras coisas, a
pessoa, do lado de fora, tocava uma sineta, normalmente amarrada por uma, ou há
uma, corda ou cordão. Escutando o som da sineta a irmã “Rodeira”, espécie de
plantonista com função de salva guardar a ‘porta’, fazia a mesma girar, e a parte que estava do lado de fora,
passava para o lado de dentro, deixando assim condições de serem pego as ‘encomendas’.
Depois de certo tempo, não só coisas materiais foram colocadas
naquelas portas giratórias, crianças passaram a serem colocadas em seu lugar.
Eram filhos de mulheres da rua, de mulheres que não queriam que soubessem da
existência de seu filho, filhos de estupros, de ‘moças’ de famílias que os pais
tentavam esconder que tiveram filhos, filhos de mães que não tinham como criar
um filho...
As mães daqueles enjeitados, por vezes deixavam alguma
coisa, como marcas e/ou fitinhas de determinada cor, na nítida intenção de mais
tarde os reencontrarem. Só que, quando as crianças ficavam na idade de aprendizagem
eram transferidas para uma outra instituição, a Casa da Pia, que os preparava
para vida adulta.
Essa forma, maneira, foi tão utilizada que a partir de 24 de
maio de 1783, através de uma Circular, o Intendente do Reino, Pina Manique, em Portugal, a
reconhece oficialmente. Depois que foram oficializadas, recebeu o nome de “Roda
dos Expostos ou Roda dos Enjeitados”. A “Casa dos Expostos”, “Depósito de
Expostos” e “Casa da Roda”, foram designações que ‘correram’ em todo o Brasil, indicando
os asilos de menores abandonados.
A vida no cangaço não era fácil para os homens que nele
adentraram. Quando, em 1929, Lampião trás para suas fileiras a mulher, na
pessoa de Maria de Déa, a Maria Gomes de Oliveira, a conhecida Maria Bonita,
outros cangaceiros, nem todos, só aqueles com ‘destaque’, ficam com a liberdade
de, também, trazerem as suas companheiras.
Conhecemos muitos casais que pertenceram há vários subgrupos
como Lampião e Maria de Déa, Corisco e Dadá, Zé Baiano e Lídia, Zé Sereno e
Cila, Gato e Inacinha, Moderno, depois Moreno, e Durvinha, Pancada e Maria,
Mariano e Rosinha... e assim, muitos outros casais pertenceram as fileiras
cangaceiras.
Dentre os afamados cangaceiros existiu Luiz Pedro da Ingazeira. Este ,
segundo consta o resultado de uma grande pesquisa, foi pai de uma menina.
Como era impossível criar seus filhos
naquela maneira de vida, eles, os casais de cangaceiros, os ‘doavam’,
entregavam suas crias a pessoas que confiavam e/ou que tinham condições de
criá-las.
Certas noites, na roda da casa dos Enjeitados, deixam uma
criança e, acompanhando a mesma, um bilhete que dizia chamar-se Maria e que era
a mesma, filha do cangaceiro Luiz Pedro.
pt.slideshare.net
O pesquisador/professor
Rubens Antonio, através de seu veículo de comunicação em massa, o blog cangaconabahia.blogspot.com, em uma segunda-feira, 20
de fevereiro de 2012, as 18:05 horas, enriquece nossos conhecimentos, postando
a matéria” Maria de
Matos, filha de Luiz Pedro e Nenê”, fruto de pesquisa do historiador/pesquisador Orlins Santana de
Oliveira, Membro do Instituto Histórico da Bahia.
A matéria nos relata que em março
do ano de 1934, na localidade Jurema, distrito de Juazeiro, no Estado baiano, o
chefe da estação recebe uma criança para ser ‘enviada’ para Capital do citado
Estado. Quando, em 28 de maio do mesmo
ano, chegam diante da “Roda dos Enjeitados”, são
colocadas na mesma, duas crianças, e que as mesmas eram crias de cangaceiros.
Trazia junto a seu corpo, uma das crianças, uma menina, um bilhete que dizia
tratar-se de “Maria” filha do cangaceiro Luiz Pedro.
Transcrição
do registro de entrada:
"Livro n.28 do Asylo dos Expostos
De 10 de Maio de 1934 á 21 de Novembro de 1935
1934
Maio – 28
Pelas 14 horas 1/2 foi posta na roda do Asylo de N.S. da Misericordia uma menina parda, com 3 mêses de edade, em bom estado de saúde.
Trouxe os seguintes objectos:
1 – Vestido com renda de bilro
2 – Fralda de morim velha;
3 – Touca branca com renda de bilro
e a seguinte declaração:
Maria – com 3 mêses de edade, filha do bandido.
Pae – Luiz Pedro
Mãe – desconhecida, vinda do Nordeste"
"Livro n.28 do Asylo dos Expostos
De 10 de Maio de 1934 á 21 de Novembro de 1935
1934
Maio – 28
Pelas 14 horas 1/2 foi posta na roda do Asylo de N.S. da Misericordia uma menina parda, com 3 mêses de edade, em bom estado de saúde.
Trouxe os seguintes objectos:
1 – Vestido com renda de bilro
2 – Fralda de morim velha;
3 – Touca branca com renda de bilro
e a seguinte declaração:
Maria – com 3 mêses de edade, filha do bandido.
Pae – Luiz Pedro
Mãe – desconhecida, vinda do Nordeste"
cangaconabahia.blogspot.com
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Infelizmente, menos de dois meses
depois de serem recebidas na “Roda dos Expostos”, “Maria”, vítima de uma
pneumonia, falece.
"Transcrição
das anotações do batismo e do falecimento:
Maria de Mattos
Baptisou no dia 29 de Maio de 1934
Falleceu de pneumonia, em 8 de Julho de 1934".
Maria de Mattos
Baptisou no dia 29 de Maio de 1934
Falleceu de pneumonia, em 8 de Julho de 1934".
cangaconabahia.blogspot.com
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